Impossível elencar os frutos que nasceram daquele plantio que se tornou, logo, uma árvore fecunda, espalhando seus ramos Brasil afora: São Paulo, Paraná, Amazonas, Amapá, Rio de Janeiro, Pará, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Sergipe; criando comunidades, paróquias, dioceses, como Parintins e Macapá, suscitando e formando vocações diocesanas locais, e, mais tarde, também vocações missionárias além-fronteiras, e entregando suas belas comunidades ao clero local na mais autêntica tradição carismática do Instituto.
Ao longo de 70 anos, toda a Comunidade Pime presente no Brasil se encontrou em Brasília (DF), entre os dias 25 e 29 de janeiro, para celebrar, agradecer, avaliar, discernir e projetar seu futuro. Muitas coisas mudaram nestas décadas, mas o entusiasmo missionário continua o mesmo, sinal da autenticidade e atualidade do carisma. É só observar a assembleia para constatar esta mudança.
Nos primeiros tempos, o grupo dos missionários do Pime era predominantemente italiano. Hoje, um quarto da assembleia provém do Brasil, de países da América, Ásia e África. E estes são os missionários mais jovens. Isso representa uma mudança "epocal” que não é só cultural ou geográfico, mas também eclesial.
De fato, se há anos atrás a presença do Pime no Brasil era marcada pela plantatio ecclesiae, isto é, pela finalidade de fundar a Igreja e suas estruturas onde ela não estava presente, hoje podemos falar de uma animatio missionis ecclesiae, isto é, a animação missionária da Igreja local.
Foi essa a tônica do encontro, que já mostrou o novo rosto do Instituto, inclusive com novos membros brasileiros trabalhando além-fronteiras, anunciando a Boa-Nova do conforme o mandato do Senhor: ‘ide pelo mundo inteiro...’ entre todos os povos.
O testemunho de dom Pedro Zilli, bispo do Pime em Bafatá, na Guiné Bissau, África mostrou como muitas leigas e leigos brasileiros também chegam à sua missão para partilhar o Evangelho. Nesse sentido, é muito interessante a colaboração do Conselho Missionário Regional (Comire) Sul 2 da CNBB, estado do Paraná, com essa missão na Guiné Bissau, enviando padres e leigos, além de 20 mil bíblias.
É esse um dos sinais proféticos que faz da Igreja uma comunhão itinerante, como sublinhou o cardeal, dom Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia e da Rede Pan-amazônica (REPAM), ao abrir a assembleia indicando algumas linhas orientadoras para o futuro.
Quais os resultados deste encontro?
Uma renovada escolha preferencial pelos pobres, enfatizando mais a missão na Amazônia, chamada pelo cardeal Hummes de "periferia das periferias”, os povos indígenas, os marginalizados como presos, migrantes, vítimas do tráfico humano, explorados, sem-terra, sem-teto, vítimas das drogas...
A assembleia se interrogou também sobre como evangelizar nas grandes cidades, nos centros urbanos, numa cultura cada vez mais secularizada e aparentemente relutante à Boa-Nova. Nasceu assim um projeto chamado "humanismo integral” que pretende entrar nas escolas e universidades para anunciar, mesmo em roupagem leiga, a centralidade de Cristo, que é capaz de dar um sentido mais profundo e humano à vida.
Foram escolhidas quatro áreas de trabalho missionário: São Paulo-Paraná, Manaus-Parintins, Macapá-Belém e Nordeste. A assembleia decidiu ainda unificar os três regionais existentes numa única Região Pime Brasil. Uma escolha corajosa em sintonia com os sinais dos tempos que exigem maior concentração de força e objetivos claros de ação.
A presença do diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM), padre Camilo Pauletti, deu também ao encontro uma nota de maior inserção na Igreja local.
O Pime quer se colocar a serviço da Igreja do Brasil, sujeito de missão, para que o carisma missionário ad gentes passe aos poucos a fazer parte da Igreja local e assuma, cada vez mais, com coragem e ousadia, aquela conversão missionária à qual o papa Francisco continuamente nos provoca.
O Pime, por meio da Editora Mundo e Missão publica livros na dimensão missionária, a revista "Mundo e Missão" e os jornais "Missão Jovem" e O Transcendente.
"O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra... e ela vai germinando e crescendo" (Mc 4, 26)
* É missionário do Pime em Manaus (AM)