Ecoando o amor além fronteiras

SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO

28 MAI 2016
28 de Maio de 2016

29 de maio de 2016  <Japão>

Textos: Genesis 14,18-20;Salmo 109 (110);1coríntios 11,23-26;Lucas 9,11b-17

 

A primeira leitura (Gn 14,18-20) é um antigo texto legendário, originalmente talvez de natureza político-militar, no qual o misterioso personagem Melquisedec, rei de Salém, oferece a Abraão um pouco de pão e vinho. Trata-se de um gesto de solidariedade: através daquele alimento Abraão e seus homens podem refazer-se e depois de voltar da batalha contra quatro reis (Gn 14,17). A passagem, contudo, parece conter uma cena de caráter religioso, sendo Melquisedec um sacerdote segundo a práxis teológica oriental. O gesto poderia conter algo de sacrifício ou de rito de ação de graças pela vitória. O v. 19, efetivamente conserva as palavras de uma bênção. As palavras de Melquisedec e seu gesto oferecem uma nova luz sobre a vida de Abraão: seus inimigos foram derrotados e seu nome é engrandecido por um rei-sacerdote. O capítulo sete da Carta dos Hebreus construiu uma reflexão em torno a Cristo Sacerdote à luz deste misterioso texto do Gênesis, segundo a linha teológica já presente nas palavras que o Salmo 110,4 dirige ao rei-messias: “Tu és sacerdote para sempre ao modo de Melquisedec”.

A segunda leitura (1Cor 11,23-26) pertence à catequese que Paulo dirige à comunidade de Corinto em relação com a celebração das assembleias cristãs, onde os mais poderosos e ricos humilhavam e desprezavam os mais pobres. Paulo aproveita a oportunidade para lembrar uma antiga tradição recebida sobre a ceia eucarística, pois o desprezo, a humilhação e a falta de atenção aos pobres nas assembleias estavam destruindo na raiz o sentido mais profundo da Ceia do Senhor. Assim, Paulo se coloca em sintonia com os profetas do AT que haviam condenado com veemência o culto hipócrita que não ia acompanhado de uma vida de caridade e de justiça (cf. Am 5,21-25; Is 1,10-20), como também o fez Jesus (cf. Mt 5,23-24; Mc 7,9-13). A Eucaristia, memorial da entrega de amor de Jesus, deve ser vivida pelos crentes com o mesmo espírito de doação e de caridade com que o Senhor “entregou” seu corpo e seu sangue na cruz por “vós”. Esta leitura paulinas lembra as palavras de Jesus na última ceia, com as quais o Senhor interpretou sua futura paixão e morte como “aliança selada com seu sangue” (1Cor 11,25) e “corpo entregue por vós” (1Cor 11,24), mistério de amor que se atualiza e se faz presente “cada vez que comem deste pão e bebem deste cálice” (1Cor 11,26). A fórmula do cálice eucarístico, semelhante à fórmula da última ceia em Lucas (Mateus e Marcos refletem uma tradição diferente), está centrada no tema da nova aliança, que recorda a célebre passagem de Jeremias 31,31-33. Cristo estabelece uma verdadeira aliança que se realiza, não através do sangue de animais derramado sobre o povo (Ex 24), mas com seu próprio sangue, instrumento perfeito de comunhão entre Deus e os homens.

O evangelho de hoje relata o episódio da multiplicação dos pães, que aparece com diferentes matizes também nos outros evangelhos (duas vezes em Marcos), o que demonstra, não somente que o evento possui uma certa base histórica (não necessariamente milagrosa), mas que também é fundamental para compreender a missão de Jesus. Jesus está próximo de Betsaida e tem diante de si uma grande multidão de gente pobre, enferma, faminta. É a este povo marginalizado e oprimido que Jesus se dirige, “falando-lhe do reino de Deus e curando os que precisavam” (v. 11). Na sequência, Lucas acrescenta um dado importante como qual introduz o diálogo entre Jesus e os Doze: começa a entardecer (v. 12).

O momento lembra o convite dos peregrinos que caminhavam para Emaús precisamente ao cair da tarde: “Fica conosco, Senhor, porque é tarde e o dia declina” (Lc 24,29). Nos dois episódios a bênção do pão acontece ao cair do dia. O diálogo entre Jesus e os Doze evidencia duas perspectivas: por uma parte, os apóstolos querem enviar o povo aos povoados vizinhos para comprar comida, propondo assim uma solução “realista”. No fundo, pensam que está bem dar gratuitamente a pregação, porém que é justo que cada qual se preocupe do material. A perspectiva de Jesus, contudo, representa a iniciativa do amor, a gratuidade total e a prova inquestionável de que o anúncio do reino abrange também a solução às necessidades materiais do povo.

No final do v. 12 vemos que tudo está ocorrendo em um lugar desértico. Isto lembra sem dúvida o caminho do povo eleito através do deserto do Egito para a terra prometida, época na qual Israel experimentou a misericórdia de Deus através de grandes prodígios, como por exemplo o dom do maná. A atitude dos discípulos lembra as resistências e a incredulidade de Israel diante do poder de Deus que se concretiza através de obras salvadoras em favor do povo (Ex 16,3-4).

A resposta de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (v. 13) é um recurso literário para dar destaque à missão dos discípulos. Estes, aquela tar próxima de Betsaida e ao longo de toda a história da Igreja, são chamados a colaborar com Jesus, preocupando-se por conseguir o pão para seus irmãos. Depois que os discípulos acomodam o povo, Jesus “tomou os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu-os e os deu aos discípulos e estes os distribuíam ao povo” (v. 16).

Ao final, todos ficam saciados e sobram doze cestos (v 17). O tema da “saciedade” é típico do tempo messiânico. A saciedade é a consequência da ação poderosa de Deus no tempo messiânico (Ex 16,12; Sal 22,27; 78,29; Jer 31,14). Jesus é o grande profeta dos últimos tempos que recapitula em si as grandes ações de Deus que alimentou seu povo no passado (Ex 16; 2Re 4,42-44). Os doze cestos que sobram, sublinham, não somente a abundância do dom, mas também coloca em evidência o papel dos “doze” como mediadores na obra da salvação. Os Doze representam o fundamento da Igreja, são como a síntese e a raiz da comunidade cristã, chamada a colaborar ativamente, a fim de que o dom de Jesus possa alcançar a todos os seres humanos.

Fonte:<http://claret.org.br/evangelhomeditado/26/5/2016>

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